Por Berna Almeida

Quem Cuida de Quem Cuidou de Nós?

Quando se recebe o diagnóstico da demência, por mais que todos se aglomerem no momento, depois somente um se torna o responsável pelo ente querido, e os demais aglomerados somem junto as nuvens negras que se formam diante dos vendavais que estão por vir…

Somem todos… A maioria…

Milhares filhos, filhas, noras, genros, involuntariamente se tornam Cuidadores Informais no intuito de tentar salvar a vida daqueles que lhes são caros.

A partir deste momento começa uma nova família com no máximo 4 pessoas, onde um são cuida de um, dois, ou três demenciados…

Como será feito? Não se atreve a tal e a partir dali ele começa a labuta diuturnamente e intimamente aguarda a visita dos irmãos, dos parentes, dos amigos, dos, dos, dos…

O tempo passa e cadê os “dos”?

Telefone não toca mais, a porta da sala já está rangendo por falta de movimento… O entra e sai de outrora já não faz mais parte dessa casa que agora pertence a uma família desconhecida pelos membros do passado.

Quem eram aquelas pessoas que aos domingos rodeavam a mesa de nossa casa?

Quem eram aquelas crianças que corriam nos quintais subindo nos pés das goiabeiras?

Cadê Ruizinho que não dormia sem os embalos de ninar de mamãe?

Messias?? Ah Messias, ainda guardo as lembranças de suas mãos entrelaçadas nas pernas de mamãe, pedindo colo.

Onde está Clarice que não hesitava em deixar mamãe molhada de beijos que dizia ser de saudades durante o período que estava na escola?

Cadê meus irmãos? Cadê aquela família que tudo que precisavam, mamãe socorria?

Hoje resta o resto de alguém cuidando de quem cuidou de nós.

Perdidos, sem rumo, sem ter com quem conversar, sem poder sair, abandonados pelos familiares, pelos amigos, enclausurados, silenciados por 1 Sujeito chamado Alzheimer.

Autoria: Berna Almeida